domingo, 4 de março de 2018

Conhecer

 Nós vivemos para conhecer.
 Conhecer o amor, a razão, e viver a loucura que nos compõe. 
 São prisioneiros de si mesmo aqueles que refugiam-se na caverna. Se porventura alguém vos dissesse que tudo aquilo com que estais habituado desde sempre é falso, como reagiríeis a tal afirmação? Mas é claro também que os tolos vendam os próprios olhos, pois assim criam a realidade que lhes convém. 
 Dizei-me se não direi-vos a verdade, quem tem os pés no chão carrega consigo o título de pessimista. Os sábios, por sua vez, são companheiros da melancolia. Os que estafam-se facilmente na vida real, edulcoram-se com ilusões.



quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Melodia pacífica

 As notas musicais penetram em meu ser, acolhendo minha alma e carregando-a delicadamente para uma pacífica e melancólica dimensão sublime.
É como estar flutuando sob o espaço, observando cada detalhe e espetáculo de cores. Em conjunto com a majestosa noite, a fria brisa une-se às melodias para levar-me ao passeio pelo céu e o universo.




sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Cheios de vazio


Tantas vozes que tanto falam, mas nada dizem. Tantos receptáculos vazios e configurados para seguirem padrões. A caminhada rumo ao precipício parece cada vez mais camuflada pela moral e bons costumes, mas apenas a morte e o vazio espera para abraçar todos os déspotas e dândis que vivem uma versão moderna da caverna de Platão, os bens materiais ficarão para trás e tudo será triturado pelas engrenagens do tempo. Cada vez mais os seres humanos distanciam-se de sua origem e de sua essência. Pede por achincalho quem ousa enxergar em meio à tantos cegos por conveniência. Destaca-se quem possui conteúdo dentro de si em meio a tantos seres plásticos cheios de vazio.



segunda-feira, 6 de abril de 2015

Essência

  Saber ouvir não é entregar-se aos desejos alheios.
  Jamais devemos perder a essência ou entregar-nos aos clichês que são impostos sem razão alguma, um padrão fútil e sem nexo.    
  Cada um ser diferente e único é o que revela a relevância e valor, pois em uma unanimidade exagerada todos aspirariam o tédio.    
  Essa harmonia e troca de experiências é o que fulgura a vida.
  Devemos ser aquilo que somos, nos descobrir, e para isso é necessário saber olhar para si mesmo, sentir.    
  Somos uma caixinha de surpresas, devemos nos permitir. Se nem sequer nós nos conhecemos por completo, não há ninguém que tenha o direito de impor barreiras imaginárias dentro de ti.
  Isto não seria uma permuta entre se montar e provar a ausência de críticas ou rótulos, pois estes sempre estarão presentes. É melhor ser criticado ou admirado pela originalidade do que por algo fabricado por mentes alheias e vazias. 
  Quem se padroniza demasiado vive como um boneco em prateleiras, todos diferentes, porém todos iguais. 
  Não aprisione a si mesmo, liberte-se.




sábado, 4 de abril de 2015

(Contos) Dama da noite

  Sua presença parecia sumir de minha vista cada vez que a encontrava...
 Por vezes penso se não estou desvencilhando-me da realidade e imaginando, mas sei que é real. Teu olhar selvagem e misterioso me seduz, Teus lábios rubros  em tão perfeita harmonia com os negros e longos cabelos. 
 É uma mulher misteriosa, anseio por saber quem é desde que vendi-me por isto. Necessito de sua presença cada vez mais.
 Ela me atrai, mas é como se não pudesse tocá-la. Apenas aquela noite... Foi inesquecível.
Sinto que faz parte de mim desde então, não sei dizer o que é este sentimento.
 Amor, paixão, ansiedade, curiosidade... Só sei que a necessito perto de mim. Mas foge como se não quisesse ser encontrada, como se tivesse medo desse envolvimento.
 O que há de errado? Apenas a quero comigo, quero poder tocá-la novamente. 
Seus trajes longos e negros lhe dão uma discreta sensualidade e feminilidade, uma beleza exótica, mística. Teus olhos parecem belos cristais que refletem o brilho do luar, com toda uma história oculta, mas com a tristeza e medo estampados. 
 Quem és tú, minha dama da noite?






sexta-feira, 3 de abril de 2015

(Contos) Eternos companheiros

 O pequeno Jimmy, de 7 anos, vivia em uma pequena ilha onde gostava de observar o céu todas as noites.
 Tinha um gato dourado chamado Félix, o qual era seu maior companheiro.
Deitado na areia contemplar as estrelas e a lua com sua simples beleza, seu gato veio a chamar-lhe a atenção entre miados e ronronados.
 Jimmy acariciou-lhe, e o gato retribuía a seu modo, com uma visível ternura entre esses dois pequeninos.
 -Ora, ora... -Disse Jimmy. -Seria bom que mais pessoas soubessem apreciar o valor de um amigo como você. As pessoas buscam tanto o amor sincero e fidelidade entre elas, mas apenas traem umas as outras e a si mesmo. Não vêem que aquilo que buscam está nos animais. Sem malícia, tudo o que querem é o carinho de seu dono.
 Os olhos de Félix eram dourados como sua pelagem, parecia uma escultura feita pelas mãos do luar. 
Logo deitou-se sobre o peito do garoto, que seguiu a acariciá-lo e contemplar o céu.
 -A noite é tão bela, Félix. -Seguiu falando. -É escura apenas para os que não sabem apreciá-la. Ela revela-nos um pedaço do universo sem nada pedir em troca. Oferece-nos sua beleza simplesmente sublime. Quem necessita de viver em tetos de ouro quando se pode ter o céu como o mais belo teto?  Veja, o mar e a lua... Formam uma tão perfeita harmonia. O brilho do luar que beija as ondas dançando tão lenta e suavemente.
 Somos nós privilegiados em testemunhar isso... E as estrelas as mais belas testemunhas, amantes uma das outras, formam o mais belo conjunto no céu. Mas a lua... Ah, sem ela, o que seríamos? É belíssima, extraordinária, simples e vital.
 O pequeno felino parecia uma estrela bem acomodada sobre Jimmy. Seus pelos sob o reflexo do luar contrastavam com a camisa negra que o menino trajava. O vento frio abrangia os dois como um grande lençol invisível.
 Dois pequenos seres que faziam companhia um ao outro dia após dia. 
Jimmy nunca se referira a Félix como um "gato", pois sempre fora mais que isso para ele. Sempre fora seu companheiro que parecia compreender cada palavra, compartilhar das mesmas sensações de liberdade, simplicidade. Sempre completaram um ao outro.

  

quarta-feira, 1 de abril de 2015

(Contos) Criatura da noite

 Havíamos acabado de nos mudar para a nova casa. Era grande e antiga, muito bonita até.
Até à noite não tivemos problema algum, estava tudo extremamente tranquilo, porém no meio da noite acordei aos gritos da minha mãe. Brigava comigo e dizia que não a deixava dormir. Apenas ignorei, pensei que pudesse estar falando dormindo como não é muito raro acontecer.
 Porém, no dia seguinte ela de fato veio tirar satisfações comigo. Estava claramente irritada, e eu sem entender nada, pois não havia saído da sala, onde dormi essa noite por conta que ainda não havíamos comprado a cama para mim.
 Mesmo confusa, ignorei a situação, cri que tivera apenas um sonho e insistia que fora real.
 Porém na noite seguinte os fatos se agravaram um pouco. 
Eu escutei barulhos vindos do quarto dela, como passos, e ela novamente irritada, nervosa.
 Em meio a isso, vi um vulto passar rapidamente por mim, saindo do quarto de minha mãe.
 Me assustei um pouco no momento, mas como não vi mais nada, tentei voltar a dormir, quando algo me chamou, cutucando meu ombro. Fiquei aterrorizada quando me virei, soltando um grito que não sei como tive voz para tal.
 Era "eu". Aquilo tinha meu rosto, minha face. Em questão de segundos aquilo foi tomando sua verdadeira forma, do rosto parecia escorrer um líquido negro, encobrindo-o quase completamente. A criatura saltou sobre mim, sufocando-me. 
 Logo minha mãe veio ver o que acontecia, apenas escutava seus passos e sua voz. Eu estava perdendo os sentidos, debilitada. Aquilo estava sugando minha energia. 
 Não havia luz, a energia fora cortada por um momento. Não sei exatamente qual foi a reação de minha mãe, pois a criatura estava tomando conta de toda minha visão, mas imagino que estava igualmente assustada. 
 É o único que me recordo desses fatos. No dia seguinte despertei no hospital com minha mãe ao meu lado. Não sabíamos o que era aquilo, e não voltaríamos para aquela casa.